A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes do agronegócio brasileiro, sendo a base para a produção de açúcar, etanol e diversos outros derivados. No entanto, ao longo dos anos, a lavoura tem enfrentado desafios significativos relacionados a doenças, sendo a escaldadura uma das principais preocupações fitossanitárias.
Essa doença, causada pela bactéria Xanthomonas albilineans, tem um impacto direto na produtividade e na qualidade da cana, e se não controlada, pode comprometer a lucratividade do canavial. Diante disso, é extremamente necessário fazer uso de estratégias eficazes de monitoramento e controle.
Neste artigo, vamos explorar os principais sintomas da escaldadura, o cenário de incidência no Brasil, os prejuízos econômicos e as medidas adotadas pelos produtores para mitigar seus efeitos com ênfase no Manejo Integrado de Doenças.
Cenário da escaldadura no Brasil
A incidência da escaldadura na cana-de-açúcar no Brasil tem preocupado produtores em diferentes regiões, sobretudo nas áreas de cultivo mais intensivo, como os Estados de São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
A bactéria Xanthomonas albilineans tem se mostrado especialmente adaptada às condições tropicais, de locais em que o calor e a umidade elevada favorecem sua proliferação.
O Brasil, como maior produtor mundial de cana-de-açúcar, enfrenta grandes desafios com a escaldadura. Em anos de alta incidência da doença, a produtividade das lavouras pode cair drasticamente, o que leva a prejuízos econômicos consideráveis e afeta diretamente a indústria sucroalcooleira.
O que é a escaldadura na cana-de-açúcar?
A escaldadura da cana-de-açúcar é uma doença bacteriana causada pela Xanthomonas albilineans. Essa bactéria é capaz de colonizar os tecidos vasculares da planta e manifesta-se em diferentes órgãos, com sintomas distintos.
O nome “escaldadura” é atribuído pelo aspecto característico das folhas afetadas, que parecem escaldadas, com lesões brancas e secas.
A doença é uma das principais ameaças à cultura da cana-de-açúcar, especialmente em regiões tropicais e subtropicais.
Sintomas e dispersão da escaldadura na cana-de-açúcar
Quando a escaldadura se manifesta em variedades extremamente suscetíveis, os danos podem ser devastadores, resultando em perdas de até 100% da produção.
Além disso, a doença pode causar deformações nos colmos, morte das touceiras, redução na produção e diminuição da concentração de sacarose.
Existem três tipos principais de sintomas, que são considerados complexos:
- descoloração interna nos colmos: em alguns casos, há uma descoloração na região dos nós dentro dos colmos, que pode ser confundida com os sintomas do raquitismo da soqueira.
- estrias brancas nas folhas: o sintoma externo mais característico é o surgimento de estrias brancas nas folhas, que podem se estender até a base.
- queima total das folhas: nas variedades mais suscetíveis, em condições favoráveis ao desenvolvimento da bactéria, ocorre a queima completa das folhas, dando a impressão de que a planta foi “escaldada”, origem do nome da doença.
Esses sintomas podem ser confundidos com outras doenças ou estresses ambientais, o que torna o diagnóstico preciso e o monitoramento contínuo fatores essenciais para o controle eficaz da escaldadura.
A dispersão do patógeno ocorre, principalmente, por meio de:
- mudas infectadas: a disseminação da doença frequentemente ocorre pelo uso de mudas infectadas. Por isso, o uso de mudas certificadas e livres de doenças é uma prática essencial.
- vento e chuva: a bactéria pode ser dispersa por respingos de chuva ou pelo vento, facilitando a contaminação de novas áreas em ambientes com alta densidade de plantio.
- ferramentas de corte: a uso de ferramentas contaminadas, como facões e máquinas de colheita, também é uma via significativa de propagação da doença.
Essa dispersão é ainda mais favorecida quando a bactéria encontra as condições ideais para se desenvolver.
Condições favoráveis ao desenvolvimento da escaldadura
As condições climáticas são determinantes para o desenvolvimento da escaldadura na cana-de-açúcar. A doença é mais comum em regiões de clima tropical, onde o calor e a umidade se tornam fatores propícios à proliferação da Xanthomonas albilineans.
Temperaturas elevadas criam o ambiente ideal para que a bactéria se multiplique e se espalhe rapidamente pelas plantas. Além disso, a alta umidade relativa do ar, associada a chuvas frequentes, favorece a disseminação da doença, já que respingos de água carregam o patógeno de uma planta para outra.
O monocultivo extensivo da cana-de-açúcar também contribui para o aumento da incidência da escaldadura, pois a ausência de rotação de culturas cria um ambiente contínuo e favorável para a sobrevivência e a propagação da bactéria.
Esse cenário climático e agrícola torna a prevenção e o controle da escaldadura ainda mais desafiadores, exigindo uma estratégia cuidadosa e integrada por parte dos produtores.
O Manejo Integrado de Doenças
O Manejo Integrado de Doenças (MID) é uma estratégia sustentável que combina práticas culturais, químicas e biológicas para controlar a escaldadura de maneira mais eficiente e duradoura.
O objetivo do MID é reduzir a população do patógeno e o impacto da doença ao mesmo tempo que reduz os custos para o produtor e mantém o agroecossistema equilibrado, o que também contribui para a sustentabilidade ambiental.
A seguir falaremos das diversas práticas agrícolas disponíveis para minimizar a propagação da doença e reduzir os danos às plantações.
Monitoramento e identificação do patógeno
O monitoramento constante da lavoura é a base do MID. Essa fase é crucial para a identificação precoce da escaldadura. Produtores devem realizar inspeções regulares, observando os primeiros sinais de infecção, como manchas e queima das folhas.
A identificação correta do patógeno, em casos de dúvidas, pode ser feita mediante análises laboratoriais de amostras de plantas suspeitas. Essa prática é fundamental para a tomada de decisões sobre o controle da doença, evitando perdas mais significativas.
Controle cultural
A adoção de práticas culturais adequadas é fundamental para a prevenção e o controle da escaldadura.
Entre as medidas mais eficazes, estão o uso de mudas sadias para evitar a introdução do patógeno nas áreas de plantio e a eliminação de resíduos ou partes de plantas infectadas, para evitar a sobrevivência e disseminação da bactéria para plantas saudáveis.
Além das práticas já mencionadas, outras medidas de controle cultural podem ser adotadas para prevenir e reduzir a incidência da escaldadura na cana-de-açúcar.
Uma delas é a escolha adequada do local de plantio, evitando áreas com histórico de alta incidência da doença ou que apresentem condições climáticas particularmente favoráveis ao desenvolvimento da Xanthomonas albilineans.
Outra prática recomendada é o espaçamento adequado entre as plantas, permitindo melhor circulação de ar entre as fileiras, o que ajuda a reduzir a umidade excessiva que favorece a proliferação do patógeno.
A manutenção de práticas de irrigação controlada também pode ser útil, pois evita o encharcamento do solo e a alta umidade nas folhas, que contribuem para a disseminação da bactéria.
O manejo adequado do solo, com o uso de técnicas que favoreçam a drenagem, e a rotação de culturas com plantas não hospedeiras da Xanthomonas albilineans completam as principais medidas culturais preventivas, promovendo um ambiente menos propício para o avanço da doença.
Essas práticas, quando combinadas, ajudam a reduzir o impacto da escaldadura e a manter a sanidade do canavial.
Controle biológico
Embora o controle biológico ainda esteja em fase de estudo para a escaldadura, há pesquisas promissoras sobre o uso de microrganismos antagonistas que podem reduzir a população da Xanthomonas albilineans no ambiente.
No entanto, essa prática ainda não é amplamente adotada em campo para o controle da bactéria
Controle químico
O controle químico da escaldadura na cana é uma ferramenta importante para prevenir a disseminação da doença, especialmente em áreas onde a incidência é alta.
No entanto, esse tipo de controle deve ser aplicado de maneira preventiva, uma vez que, após a infecção da planta, o patógeno se instala no sistema vascular, tornando o tratamento menos eficaz. A aplicação de bactericidas deve ser realizada antes que os sintomas graves apareçam, ajudando a reduzir a população da bactéria nas plantas e no solo.
Uma prática essencial para garantir a eficácia do controle químico é a rotação de moléculas. Alternar o uso de diferentes princípios ativos ajuda a evitar que o patógeno resistente aos produtos aplicados seja selecionado, o que é um risco quando se utiliza repetidamente o mesmo tipo de defensivo.
Essa rotação deve ser planejada ao longo do ciclo da cultura, integrando o controle químico a outras práticas de manejo para garantir melhores resultados.
O sucesso do controle químico, contudo, depende de sua integração com outras estratégias, como o manejo cultural preventivo e o uso de mudas certificadas.
A combinação dessas práticas aumenta as chances de controlar a escaldadura de forma eficiente, sem causar danos severos à plantação, o que também contribui para uma lavoura mais sustentável.
Prevenção contínua para minimizar os danos da escaldadura
Controlar a escaldadura da cana-de-açúcar de forma eficiente requer uma estratégia preventiva e integrada. O monitoramento contínuo, o uso de mudas certificadas e as práticas agrícolas adequadas, como a rotação de moléculas, são passos imprescindíveis para evitar grandes danos da doença nas lavouras.
Por fim, a conscientização e a capacitação dos produtores sobre o manejo integrado e a importância do controle precoce são essenciais para minimizar os impactos da escaldadura na produção de cana-de-açúcar no Brasil.
Uma lavoura saudável é resultado de estratégias de manejo eficazes, implementadas de forma coordenada e contínua.
Deixe um comentário